quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Adeus à relva

E eu verei sempre – ainda que de longe, a casa, no emaranhado de lembranças, que se sobrepõem ao medo de te reencontrar, pois sei que – mesmo que te escondas, estarás lá, me esperando para de novo me converter.
Eu passarei ao largo – encoberto pela sombra dos postes. Serei a noite, que escapou da noite, que dormia em teu quarto.
E, sem querer me aproximar, serei chamado pelo vento, que passeia no jardim de tua casa. Não tenho certeza se aceitarei o convite, que exala de tua alma, e que desfalece no corpo na cama.
Não. Prefiro o esvoaçar de teus cabelos. Neles me enrosco e me encontro, descubro-me, nesse sussurrar de veículos, que descem a alameda, que circunda teu esconderijo.
Se foges, fico. Se ficas, saio.
Não quero que me encontres, para te saudar, quando chegares à saída da escola – ou à lojinha de miudezas, em que entras...
Ah, como anseio por esse momento, que repudio e rejeito! Ah, como desejo te ver outra vez, como daquela vez – a primeira, quando o mundo ainda era indócil, e eu jogava pelada no campinho da rua!
Fui um bom jogador! E como te agradava! Tu, que tinhas pouca idade, ainda sabias sorrir, e eu flutuava em teu sorriso, descansava em teus lábios, e fugíamos para os igapós, que nos avisavam do perigo, pois éramos ingênuos, que nem as galinhas-dágua, que fugiam de nosso silêncio.
Eu fui, não ficaste...
Mas não foste, nem comigo nem com a chuva, que deixou de cair naquela tarde, porque já era tarde para estar.
E nós? Ora, nós! Não éramos, não fôramos o laço, a arapuca, o visgo, a espera... Tudo servia para atrair os incautos: o arroz com casca, o milho quebrado, a crueira, até tripa de galinha para pegar siri, no trapiche.
Eu fui teu amante...
E hoje, quem sou? Nem lembrança. Nem a cor do chinelo que não calças mais hoje. Mas lembro de quando tiravas a blusa e depois... Naquele quarto mora a dor de todos nós...
Hoje, me disseste adeus, e eu – atônito, me segurei para não cair, permaneci em pé, e com uma só perna desci a ladeira, e quase havia choro. Só não chorei, porque ainda era cedo para subir de novo e te encher de porrada.
Rua de tantas ladeiras!
Hoje, disseste não, me deitaste fora, me deixaste confuso. Até agora não me recuperei, mas sei o que faço. Vou para a praia. Lá, sou amigo da areia. Ela me aceita e me deixa deitar, sem ter que mentir... Minto muito.
Menti para ti, para te livrar da verdade, e agora me arrependo. Isso bem que poderia ser evitado.
Trago o tango, todos os vícios do mundo, do homem. Homens e mulheres descansam sobre mim, dançam e cavalgam meu cavalo, que esconde a noite, a chuva, o vento, que escorregam para a barba, que deixei crescer só de propósito, só para me diferenciar dos poetas, de quem tenho raiva, porque só dizem besteiras, só escrevem o que não deveriam, e têm barbas compridas.
Sei que estou ficando velho, que deixo, toda manhã, no lençol, parte do pelo que cobre meu corpo.
Ah, o mundo, com suas mazelas e beleza! Não. Não sou o mundo, nem poderia sê-lo, ainda que me levantasse todo dia às cinco da manhã.
Não, mas já fui uma vez professor, escritor, quase um artista. Hoje, choro, porque penso, que, se tivesse nascido antes, talvez chegasse vivo a poeta.
Estou morto e meus pais não sabem... Ninguém sabe. Nem os jabutis, que cochilam no quintal, nem o pé de acerola que dá o ano todo...
Mas uma porção de gente desconfia, porque meu corpo cheira mal, é sinal de que ainda estou vivo, que desejo viver muito mais do que todo mundo junto.
Há uma canção correndo no ar, um agudo que me encanta. Gosto disso, do altissonante das palavras – ainda que não as entenda bem. São elas que criam a atmosfera do plano oculto, que carrego em meus dedos, que fogem feito loucas.
Sim, já é hora de parar...
Veio lá de dentro o aviso, a senha, o desejo de descansar. A canção, agora, é outra. Sei, por isso, que é o momento de dizer adeus. Adeus, meu irmão, adeus, minha irmã de palavra. De palavra em palavra, enchi meu cofo, transbordei meu alguidar.
Agora, é chegado o fim. O fim que insiste em recomeçar.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ana de Hollanda pede aprovação do Vale-Cultura

Posse de nova ministra teve poucas propostas, apresentações culturais e dança de Suplicy

A nova ministra da Cultura, Ana de Hollanda, prometeu nesta segunda-feira dar continuidade aos programas desenvolvidos pelo ministério durante o governo Lula. A irmã de Chico Buarque disse apenas que vai dar continuidade ao projeto Mais Cultura e aos Pontos de Cultura. E cobrou do Congresso Nacional a aprovação do projeto do Vale-Cultura - benefício de 50 reais mensais para famílias de baixa-renda.
"Minha gestão jamais será sinônimo de abandono do que foi ou está sendo feito", afirmou a nova ministra. Ana de Hollanda prometeu ainda trabalhar para democratizar o acesso à cultura no país. "É preciso ampliar a capacidade de consumo cultural desses brasileiros para ascender culturalmente", defendeu. Durante o discurso, ela chorou ao se lembrar dos pais.
A posse da nova ministra foi, certamente, a mais pitoresca da equipe de Dilma Rousseff, com a apresentação de vários grupos culturais. O mestre de cerimônias da posse - que teve bateria de uma escola de samba brasiliense, a Aruc - foi o rapper brasiliense Gog. Se não bastasse, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se empolgou com as mulatas e arriscou titubeantes passos de dança. Os atores Antonio Grassi e José de Abreu compareceram à cerimônia, assim como as cantoras Sandra de Sá e Rosemary. Chico Buarque não compareceu.
O antecessor de Ana de Hollanda, Juca Ferreira, também foi às lágrimas em seu discurso.

Livros de Paulo Coelho são banidos no Irã

Ministério da Cultura do país proibiu a publicação de qualquer livro do autor. Coelho colocará obras para download gratuito

iG São Paulo | 10/01/2011 12:55

O escritor brasileiro de maior sucesso no mundo, Paulo Coelho, divulgou em seu blog que todos seus livros foram banidos no Irã. O Ministério da Cultura do país determinou, sem explicar o motivo, que nenhum livro que contenha o nome do autor pode ser publicado. Os livros de Paulo Coelho são publicados no Irã desde 1998, tendo vendido 6 milhões de cópias.
Coelho classificou o episódio como um "mal-entendido". "Meus livros foram publicados no Irã por 12 anos em diferentes governos. Uma decisão arbitrária só pode ser um mal-entendido", escreveu no blog. O autor espera que a questão seja solucionada ainda esta semana e disse contar com a ajuda da diplomacia brasileira. "Eu sinceramente espero que o Governo Brasileiro se pronuncie a respeito."
Este não foi o primeiro problema de Paulo Coelho no Irã. Em 2005, mil cópias de "O Zahir" foram confiscadas pela polícia e seu editor no país foi detido para interrogatório uma semana antes do lançamento do livro. "O Zahir", que trata de homossexualidade, havia sido aprovado pela censura do país.
Em resposta ao banimento, o autor vai colocar todos os livros para download gratuito na internet para o Irã enquanto a questão não for solucionada.

Breve biografia

Walt Whitman nasceu em West Hills, cidade de Huntington, estado de Nova York, em 31 de maio de 1819. Foi poeta, ensaísta e jornalista, considerado por muitos como o pai do verso livre.
Em julho de 1855, publicou a primeira edição de "Leaves of Grass" cujos custos Whitman suportou, mas não citava o nome do autor. Os versos eram livres, longos e brancos, imitando os ritmos da fala. Continha apenas 12 poemas e um prefácio.
A obra poética de Whitman centra-se nesse livro, pois, ao longo de sua vida, o escritor se dedicou a rever e completar o livro, que teve oito edições durante a vida do poeta.
Em 1856, publicou a segunda edição de "Leaves of Grass" – já com o nome do autor, e era composta por 32 poemas, intitulados e numerados. Foi recebida com entusiasmo por alguns críticos, mas mal recebido pela maioria, o que, contudo, não impediu Whitman de continuar a trabalhar em novos poemas.
Em 1860, publicou, em Boston, a terceira edição, com 154 poemas. Em 1867, publicou a quarta edição, com 8 novos poemas. A quinta edição (1870-1871), teve uma segunda tiragem que incluía "Passage to India" e mais 71 poemas, alguns dos quais inéditos.
Em 1876, surgiu a sexta edição, publicada em dois volumes. Em Agosto de 1880, Whitman reviu as provas da sétima edição, que, sob ameaças do Promotor Público, teve de suspender a distribuição do livro. A edição só foi retomada dois anos mais tarde por Rees Welsh e depois por David McKay. Incluía 20 poemas inéditos, os títulos definitivos e a ordem dos poemas revista.
A oitava edição de "Leaves of Grass" apareceu em 1889, e no ano seguinte o escritor começou a preparar a sua nona edição, publicada em 1892.
Os últimos anos de vida de Whitman foram marcados pela pobreza, atenuada apenas pela ajuda de amigos e admiradores americanos e europeus. Whitman morreu no dia 26 de março de 1892 e foi sepultado em Camden, New Jersey. Cinco anos depois foi publicada, em Boston, a décima edição de Leaves of Grass (1897), a que se juntaram os poemas póstumos "Old Age Echoes".